segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Pequenos Prazeres

Tive um fim-de-semana que me aconchegou. A família ainda de férias levou-me À ilha da Fuzeta com primos grandes e um pequenino. Sugo os fins-de-semana até ao tutano. Mil banhos, mil ondas, castelos, sesta na praia, passeios na areia com a mãe, finos com o pai, croquetes, mais mergulhos, creme, torrar na toalha, paz. Subimos até ao Alentejo, dormi em Évora de fugida. Os finais de tarde alentejanos em pleno Agosto fascinam-me. Azinheiras a perder de vista, não se percebe o horizonte, a bola de fogo desaparece no meio de girassóis.

E hoje de manhã voltei, no meio de uma fila de carros enormes, trazida pelo pai como se fosse para a escola, para a grande e barulhenta Lisboa.

E é o amanhã que me entusiasma.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Tic-Tac de caracol

O minuto não avança. Fica ali parado, sozinho à espera que os olhos lacrimejem da violência que é não o ver passar. Só passas quando não olho. Hoje é difícil manter os olhos abertos por mais tempo. Mais um minuto e caio. O corpo e o cérebro trocam sinais de fraqueza e o minuto não passa não passa. O tempo só voa quando não deve.

Telhados de vidro


Tenho a leve sensação de um camião que me acabou de atropelar. Já não percebo se é do cansaço, se algum vírus que me veio visitar, se da noite mal dormida. Hoje o caminho casa-trabalho foi eterno, no meio de delírios ainda do despertar em sobressalto, ouvia vozes longínquas a combinarem programas ou a desejarem um bom dia. Dormitei todo o caminho, um dormitar que me deixou as olheiras mais profundas, o corpo mais dormente e a cabeça ainda mais pesada. Estou cansada, estou estupidamente cansada por fora e por dentro. Hoje nem uma injecção de cafeína me levanta. Em frente ao computador começo a ver letras duplicadas, fico parada a olhar sem ver, a luz do ecrã magoa-me os olhos ainda mais do que o habitual e é pesado pesado. O fumo do tabaco deles entra-me pelo nariz acima e faz-me não parar de tossir. Hoje tenho cada célula com uma sensibilidade alucinante. Sinto-me nua. Hoje conto minutos embrulhada em vidros estilhaçados.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Atracções Insólitas

«Um Retrato de Costas

Um retrato de costas. Encontro este retrato numa velha gaveta. Casa antiga. Fechada. Há quanto tempo fechada por dentro? Casa dentro da cidade. Sala dentro da casa. Armário dentro da sala. Gaveta dentro do armário. Retrato dentro da gaveta. Retrato de costas. Costas sem peito visível. Onde estarão os olhos? E terá mesmo olhos? E o corpo terá mesmo volume? E matéria? Ou será só costas, uma superfície escura, uma mancha levemente curvada a indicar os ombros? Ou a pergunta escondida? Onde estará o peito? Virado para lá ou só costas do lado de cá? Onde aí estarão os olhos? Que profundidade contemplarão? Que espaço construirão? E, a que voltará as costa esse peito? Do lado de cá a escuridão da mancha das costas na fotografia. Mas que saberão os olhos que eu não vejo das costas que impressionaram esta velha chapa fotográfica? Que saberá esse peito do meu peito? Que verão esses olhos dos meus olhos que agora interrogativamente observam as costas negras do peito que nunca poderão ver? Será o espaço das costas tão só imaginário como parece ser o espaço do peito? Serão mesmo estas costas a fronteira, o limite entre o real e o imaginário? Ou será afinal só uma velha fotografia dentro da gaveta. Gaveta dentro do armário. Armário dentro da sala. Sala dentro da casa. Casa dentro da cidade. Cidade dentro do País. País dentro do Mundo. Mundo dentro do Universo. Universo em que as noções de costas e de peito são tão relativamente relativas que só no meu peito e nos meus olhos vejo realmente as costas negras deste retrato de uma pessoa que desconheço e que poderia talvez até ser eu próprio.»

Melo e Castro

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Sexta


Não estou muito convencida com as cores do blog.
Dou graças pela existência do facebook.
Está calor aqui dentro.

A minha cultura geral acerca de marcas de café aumentou imenso, a jogar ao stop ninguém me vai parar.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Olha, é a vida!


Eu estou um bocadinho triste, vá.
Só um bocadinho.
2009 é marcado por dois até três acontecimentos importantes na minha vidinha (mas o terceiro não digo). O primeiro refiro-me aos belos 11 meses de erasmus em Bologna, o segundo refiro-me às férias que não tenho. A minha mãe telefona-me do México a dizer que nunca provou água do mar tão quentinha e eu digo-lhe que não quero saber mais nada por favor.

Arranjei uma casinha de bonecas na Mouraria, lá pros lados de S. Cristóvão como diria o meu avô (e é mesmo). Tenho uma magnífica paisagem e um chão de madeira antiga e paredes azuis e vermelhas. Também tenho muitas escadas para subir até aqui, o que até é bom porque a trabalhar com horários como as pessoas grandes, é memso verdade que não se tem tempo para nada. "Ah vês, agora já percebes o que eu dizia! A vida custa a todos." Carralhos pá. O horário das 9 às 18h é um período diário de cronometragem, quero dizer, cada minuto passado é um alívio e uma vitória de sobrevivência. Às 17h59 faço o meu xixi de final da tarde, também para gastar alguma água do autoclismo e às 18h em ponto saio daquela porta com grades e dou um salto no ar, às vezes estou tão em êxtase por respirar ar puro que não olho para os lados e quase sou atropelada diariamente. Depois tenho a bela viagem de eléctrico, muito bonita para passear, não para tentar chegar a um sítio longínquo do local de trabalho. O eléctrico nesta altura está sobretudo cheio de italianos e avecs (acho sinceramente que os italianos este nao derrubaram os avecs em número) bronzeados e vermelhos de guias turísticos nas mãos e com ar saudável de férias. Matava-os a todos.

O meu maior desejo quando saio do tal estabelecimento prisionário é beber uma Super Bock fresquinha e absorver toda a pouca luz do dia que resta. Lisboa é bonita pá. Só vou para casa depois, já noite, subir as escadinhas que me farão bem aos glúteos, ver o misto de Zé Povinho + Gente estranha + Bêbedos + Famílias queridas + Velhinhos nas janelas + Turistas + Paquis da minha rua, subir mais escadas e casa. E já estou cansada e só me apetecia um sofá que não tenho e uma massagem no pescoço.

Vou ter muitas moradas de aluguer. Já começaram. E agora mais do que nunca tenho este pressentimentozinho que vão ser muitas muitas e eu vou ser deserdada mas amada na mesma pela família. Claro que tenho que começar a não trabalhar de borla e a exigir algum ordenado, mas por agora, olha é a vida. Mas eu vou-me esforçar para que a minha seja interessante, prometo.


Lisboa está bela e diferente e eu estou diferente em Lisboa e o contexto é diferente o de estar em Lisboa
Preciso de conhecer de novo Lisboa.