terça-feira, 29 de junho de 2010

Sem vento


Fui à praia e não vi o mar.

Mas senti-lhe o cheiro profundo que só encontro aqui. Senti o céu cinzento a transformar-se num azul intocável.

Depois vi o mar.

Mergulhei na água fria que já não sinto assim tão fria. Gostei das algas a acariciar-me as pernas sem assustar. A areia fina, os pés a afundarem-se num prazer. E as rochas a convidar descoberta, as pedrinhas para apanhar. Peixes mesmo ali.

Os meninos do infantário de chapéus amarelos, a senhora a ler uma revista, o casal de idosos prontos para um mergulho, o miúdo que me olhava e eu por ali.


Sem vento.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Por partes

Há momentos ao longo do dia que desde pequena sei que são os mais difíceis. De manhã, quando me levanto e das duas uma, ou tenho de ser rápida, ver se tenho tudo e sair de casa com o cabelo molhado ou acordo devagar, fico a pensar se terei sonhado alguma coisa e depois é como já não pudesse estar ao abrigo dos meus lençóis e tivesse de enfrentar o mundo de braços abertos, mesmo se só puder vaguear pelos cantos da casa cheia. A solidão é mais amarga entre a gente, todos nos seus ritmos, talvez todos eles sozinhos, todos família que não se conhecem de lado nenhum. E todos a fingir. Todos a fingir uma vida tranquila e deles. Se calhar não é verdade, sou só eu que finjo que a casa também é minha, ainda é minha, será sempre também para mim. Nunca foi?
Depois havia aquela hora, 6, 7 da tarde, não sei bem porquê mas quando essa hora se aproximava a minha barriga começava a ficar cheia de borboletas nervosas. Acho que antigamente se resumia à hora de ir nadar, à responsabilidade, às vezes a não querer ir mas tinha de ir.
E por fim era a noite, quando temos de ir para a cama, queremos o conforto dos lençóis mas forçamos em não adormecer para não sentir os fantasmas da noite.

Hoje acordei vazia. As palavras não me chegam, mas também não sei o que quero mais. Quero um campo de papoilas dentro de mim. Estou cansada de estar alarmada à espera de ver ou encontrar não sei o quê. Como se tivesse numa rua estreita, escura e não acreditasse que os meus olhos viam as pessoas felizes a passear ou a viver a sua vida. Não confio. Eu estou ali à espreita de coração nas mãos. E entretanto vou sempre dizendo, onde quer que esteja, que estou em casa.

domingo, 27 de junho de 2010

Cheiros

Tenho um olfacto terrivelmente poderoso.
Gosto do cheiro primaveril que enche as cidades, dos perfumes doces, de velas e incenso, de cheiros químicos: tintas, vernizes, colas, acetona, diluente, do cheiro a refogado e a pimentos e do pão acabado de fazer. O cheiro a café, canela, o côco e a baunilha. Alfazema deixada entre os dedos. O cheiro do mar. O cheiro das árvores. A minha vida está mais catalogada por cheiros do que por músicas. O cheiro das pessoas. O cheiro a humidade e a terra ao pé de casa. A humidade a bater na cara e a fazer gotinhas. A terra molhada e o frio no inverno.

Cheira a Verão aqui, o cheiro ainda a Junho e a Julho, aqueles meses que antes ainda não os podia sentir em Viana e que de facto são os únicos a que se pode chamar Verão. Agosto vem ventoso e chuvoso na maior parte das vezes. Humidade abafada, terra quente, peixe e carne na brasa, os cheiros das casas.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

S. João (durante)



O S. João teve várias fases...

1) Observação do mapa e respectiva análise e gráfico para chegar a casa do Johnny que fica no cu do mundo;
1.1) Guilherme esqueceu-se das lentes.

2) Chegada ao Barracão. As pessoas que tinham ido comprar as faltas de última hora armaram-se em espertos e trancaram a casa e levaram a chave. Esperar à porta;
2.1) Só havia febras. Eu, Torre e Joana rumo ao Pingo Doce. Vinho e sangria e comida para mim.

3) Tudo cheirava a febra, do dedo do pé à ponta do cabelo.
3.1) Saramago;
3.2) A MARAVILHOSA SANGRIA feita por mim e pela Joana;
3.3) O saco do pão no meu bolso das calças.

4) O lançamento do balão. A dificuldade, as instruções e o perigo. Primeira tentativa falhada. Segunda realizada.

5) Foto de grupo.

6) Estacionamento do carro em casa;
6.1) Momentos musicais apaixonantes;
6.2) E outras coisas desgraçadas lol.

7) O andamento e a martelada e o homem que não soube sorrir ao meu agradecimento pela cerveja de borla. Ser boa pessoa não funciona.

8) Uma ressaca do caraças.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

S. João



Viva a sardinha e a broa e as febras e os manjericos e os balões e os martelos e a confusão e as pessoas a atropelarem-se e a cervejinha fresca e o vinho que arranha a garganta e a música do bairro. Ansiosa pela noite!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Cheese, Chat & Wine

«I'd rather be fat
and chat.»

Sally

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Coisas a cair

Gosto dos quadros, das cores que desbotam e das transparências que descortinam pensamentos e constroem um amontoado de confusão e de caos. Para olhar com olhos de ver. E para se perder.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Pensamentos




«A uma hora dessas
por onde estará seu pensamento
Terá os pés na terra
ou vento no cabelo?

A uma hora dessas
por onde andará seu pensamento
Dará voltas na Terra
ou no estacionamento?

Onde longe Londres Lisboa
ou na minha cama?

A uma hora dessas
por onde vagará seu pensamento
Terá os pés na areia
em pleno apartamento?

A uma hora dessas
por onde passará seu pensamento
Por dentro da minha saia
ou pelo firmamento?

Onde longe Leme Luanda
ou na minha cama?»



Adriana Calcanhoto

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Strong and Brave



Depois foram os adeus.
Depois a viagem atrasada, as mil horas no avião, a ligação perdida em Dublin, o não fechar olho durante a viagem, chegar a Amesterdão e correr com os dois chapéus e os dois casacos de Inverno, conseguir chegar a tempo e voar para Lisboa. Borboletas na barriga. Gosto de andar nos aeroportos em passo apressado e de cabeça levantada. Faz-me sentir senhora do meu nariz. Até de olhos inchados e pescoço todo torto.

Apertuchos e mimos da família.


Jet Lag grave, toda trocada, sem saber a quantas ando. Faltam-me coisas que ficaram ao pé do Pacífico. tralha espalhada pelo quarto, malas abertas e desmoronadas.


strong and brave strong and brave strong and brave strong and brave strong and brave
e hoje dei de caras com isto:



«Life is compared to a voyage

Promise yourself to be strong that nothing can disturb your peace of mind. Look at the summy side of everything and make your optimism come true. Think only of the best, work only for the best and expect only the best. Forget the mistakes of the past and presson the greater achievements of the future»

New York


New York é grande, alta, diversa, escura e clara e colorida, suja e limpa, verde e cinzenta e azul, New York são pessoas de todas as cores e feitios, é a humidade no ar, o calor e o frio, são os ritmos daqui e acolá, é o mundo inteiro que cabe ali.

Chegámos 5a, depois de atrasos aéreos, muitas malas para carregar, muito cansaço e horários trocados. Foi a última casa que me abriu portas ali, por agora. Caminhadas, muitas muitas, percorremos as ruas, olhei para cima até ficar tonta a contar os andares dos edifícios mais altos, muitas luzes, muita gente, muitas luzes que mexem e remexem e eu fiquei a olhar hipnotizada. Muito sono também e borboletas na barriga. Foram os meus últimos dias. Brunch e bloody marys. um jantar japonês à uma da manhã. A música que ele cantarolava para ter piada e que por muito má que seja ficou na cabeça de todos. E na língua. Newwwwww Yoooooooork.

New York foi minha e nossa. Despediu-se com lágrimas de céu e eu fiquei com o coração nas mãos. Mais uma vez.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Two weeks spoiled by Sally and Frank

Poetry & Wine

Red, white, sparkling words
choose a song,
she dances on the floor
i'm not hungry anymore, he said
i prefer red, i filled more

Red, white, sparkling words
around the table,
sitting in the couch
the music is there
but our voices are loud

walking with you
sharing with you
asking you
drinking with you
cooking with you
waiting with you
smiling with you
learning with you
speaking with you
on the kitchen floor, with you!!!




obrigada

Revisão da casa dos ursinhos e paisagem photoshop


«O nosso amor, Vai ser assim,
Eu prá voce, Voce prá mim
O nosso amor, Vai ser assim,
Eu prá voce, Voce prá mim»

Friends parents house without friends


Los Angeles e Santa Barbara no lar dos pais dos amigos.
Foi um luxo tão grande que consegui sentir-me mal por me sentir tão bem.

E no Memorial day rumamos pela estrada fora de Santa Barbara a Los Gatos com um churrasco delicioso e gente bem disposta à nossa espera. E disseram que eu tinha 17 anos. Se era do álcool ou não, não sei, mas fiquei contente.

Com vontade o mundo torna-se pequeno



Quando as vi nem queria acreditar. Emma e Carolyn aqui a tocarem-me, a ver se eu era real. Não me senti real. É estranho como Bologna atravessou o mundo. Conheci-as melhor aqui. Voamos até San Diego, vimos o estranho festival português com uma parade de crianças e jovens vestidos de reis e rainhas. «Fazem isto em Portugal?» «Que eu saiba não, mas...» . Ouvi portugueses, muito sotaque açoreano. Havia favas e bacalhau e vinho carrascão e bifanas e tremoços. E bombos e lenços e folclore e barrigas e bigodes tugas. E coisas escritas em português. Aiii!
Carlsbad, o meu estômago com doi doi, praia, escaldão delas, guitarra, homens americanos a sério da marinha (lol), karaoke, um elogio bom para o ego, LA ahhhhhhhhhhhhhhhhh, vampire spot, dançaaar sem querer saber do mundo, bebidas à borla, 10 lanes com carros paradinhos da Silva, que futuro, dançar, dançar, fome às 4 da manhã, pequeno-almoço da avó, o tempo maluco, a boa sorte e o desejo de reencontro por esse mundo fora.

grab brag bag