terça-feira, 27 de dezembro de 2011

«[...] o dramático, mesmo que difuso, está em primeiro plano; ele remete para um acontecimento específico, primordial: o encontro catastrófico com o outro - ainda que seja o outro em si mesmo
JPS

domingo, 20 de novembro de 2011

cose-se-me o contorno sólido da imagem doeu-ponto-nu-deserto-do-mundo.
porque paredes me conheces. reconheces-me? apalpas-me em gelo, celofane transparente, um amor-diagnóstico com luvas brancas, ainda não se sabe por onde ir.

"o que nos cerca é ainda menos que coisa nenhuma, ainda menos que uma ausência. (Para o definirmos teríamos porventura de ir buscar uma palavra a um tempo antes do princípio.) Estamos absolutamente sozinhos. E o frigorífico?"


JLP

sábado, 29 de outubro de 2011

para que serve a ausência desejada do carrossel .

terça-feira, 18 de outubro de 2011

partita

sou dos que partem. dos que se lançam violentamente contra o cimento dos corpos para os atravessar em estado líquido. mas para já o meu corpo é negro. partita.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

oferendas

ofereço-te pretéritos perfeitos atados com um laço de seda daquela cor, como é que é? aquela... daquele verdeazulazulverde. brilhante. um ramo de pretéritos perfeitos presos para não te cairem canudos de paladar por entre os dedos. lambe-te-me.
O outono entrou-me pela boca e alojou-se em pedras estaladiças no meu estômago

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

uma a uma. as coisas.

uma a uma. as coisas. sem ordem.
pilhas de lágrimas que rasgaram girassóis do meu peito, ciclos de cinema mental já sem espaço na corrente vertiginosa que me tranca nas quatro paredes. abro só mais um pouco a janela.
pensamentos organizados por cores e texturas, ou por cheiros. sobretudo por cheiros porque as imagens desbotam, alteram-se, cravam-se inertes com alfinetes conforme a paisagem interior. e nunca mais encontramos as originais. nunca soube delas. quatro paredes políticas, um tecto e um chão que desejei esticar até chegar ao outro lado, aos outros lados de tudo. visto-me do avesso. os órgãospor fora, a pele cá dentro. ninguém nota ainda bem. órgãos no meio da rua numa epifania de movimentos, palpitações, as artérias em corrida, ossos mecânicos num desatino. o coração ali tão perto. o que significa estar perto. nua de mim, do avesso, passível de esventrar. fora das quatro paredes.
varri-me de lá até ao último suspiro de pó.
uma a uma. as coisas. todas de uma vez.




outra morada de aluguer

terça-feira, 12 de julho de 2011

drame-de-la-vie.

merci Sarrazac.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

"Vai-te embora desaparece não me toques não fales comigo fica comigo.
O que é que se passa?
Nada. Nada mesmo.
Estou a ver.
Já alguma vez pensaste, pensaste que o teu coração se ia partir?
Não.
Desejaste rasgar o peito arrancá-lo de lá para parar a dor?
Isso matava-te.
Isto está a matar-me."


Fedra, Sarah Kane

quinta-feira, 23 de junho de 2011

cenas suspensas

o sangue está tingido de tinta meu amor:
escorrem borboletas, fios de pérolas
electricidade alucinante que desperta o meu corpo fugidio.
(quanto tempo ainda? qual tempo. por onde me movo entre as teias...?)
qual reflexo, qual o rosto tatuado de imagens, oscilante entre as garras de sombras.
comam a carne.
a minha.
a torção mais alongada, meu amor. amar e matar na mesma cúpula de corpos.
percorro-me sem vértebras nos ramos finos dessa vertigem sempre mais alta que a anterior.
a tinta está tingida de sangue meu amor.
e a imagem que regressa enche-me a boca de trapos desenhados à pressa no esboço perdido daquela velha mesa.

terça-feira, 7 de junho de 2011

O Corpo Músico In the Mood for Love

palavras-chave

memória, imagem, passagem, regresso, mood, desencontro, passado, luz, presente, sombra, futuro, nostalgia, cristal, fragmento, narrativa, tempo, corpos, músicos, amor, Tempo,Tempo, TEMPO


ruína.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

une autre danse

De ce point de vue c'est comme une drogue, et les humains se shootent à ça depuis toujours; à petite dose; les overdoses produisent la grande littérature.



sexta-feira, 27 de maio de 2011

PRETO E BRANCO. não existem. sobressalto no trapézio que me mantém acordada para não cair... e se cair? ato braços e pernas, desmembro o corpo e estalo as vértebras numa tentativa de separação. frag-mento-frag-minto: frágil. frágil. não sei se não partir. bocados de mim aqui e acolá. não tenho tempo para os recolher... não tenho tempo, continuamente este nascer e morrer, trapézio, equilíbrio, nunca há, nunca há trapézio, sempre em queda, não sinto nada. o que puseste na minha bebida? a queda em zigue-zague, não sei falar, não reconheço. conheço-te? há quanto tempo? há quanto tempo te abraço? não te abraço, nunca te vi. tenho saudades tuas mas nunca te vi. espeta a tua bela faca no meu peito e procura o que há dentro de mim. não podes... não há corpo, bocados de mim e acolá. nomes sem rosto rostos sem nome, vazios. faltam-me as palavras desbembradas junto de mim.

sábado, 14 de maio de 2011

«Tenderness... is nothing but an infinite, insatiable metonymy and a miraculous crystallization of the presence.»

terça-feira, 10 de maio de 2011

(sufoco. a pressão nos ouvidos. uma massa imensa. volume. peso. lutar para chegar à superfície.)
(sons de um ser humano a chegar à superfície. os pulmões saem da boca num beijo ansioso.)

havia uma linha no fundo. no fundo do mar havia uma linha ténue como esta do avião. finalmente o pescoço numa posição diferente. olho para cima até ficar tonto. e de repente todas as janelas. as janelas de todos os apartamentos do mundo. às vezes por cima da minha pespectiva, às vezes eu em panorâmica. naquela janela ela, vestida de negro. braço direito em ângulo recto, entre o umbigo e o soutien que parece sustentar qualquer coisa. o braço esquerdo por cima a segurar um cigarro. expulsa o fumo em gritos constantes. ele sentado no paarapeito, noutra janela de costas para outra ela. estão em silêncio. apercebem-se? que estão juntos? ou que não estão juntos? e ela, braço em ângulo recto olhar num ponto. consome aquele ponto como se fosse começar pirouettes em catadupa. uma família. tantas famílias... mergulhadas em imagens flash coloridas.
por vezes aqueles cheiros a conforto. café, pão quente, roupa lavada. cheiros-conforto-reconforto. não sei se tenho cheiro. só sinto o dos outros. (nunca se olham...) chovem folhas como se estivéssemos no outono. não estamos no outono. e curto-circuito. eletricidade a percorrer-me. como se, de novo, estivesse naquela sala, junto daqueles que consomiam o ponto inerte. era eu o ponto inerte e o corpo eletrocutado como o fumo que jorra gritos. e ninguém ouve. continuam de olhar fixo no ponto, até se desdobrar em imagens...

(luz a cegar o olhar e ainda ali no meio da água. depois peso. volume. uma massa imensa. bruma incandescente)




sábado, 30 de abril de 2011

andei à procura de restos de carinho nos caixotes do lixo que se esqueceram de levar

domingo, 17 de abril de 2011

uma mochila


carrego-me às costas. não sei bem se posso largar a mochila. para onde vão os tons alaranjados do teu cabelo? se mudar a posição podem-se transbordar os sonhos. transbordo de sonhos. vem-te sentar aqui. não quero. perco-me em memórias. as passadas e as futuras. em flash. mas estou aqui. não me peças para sentar. preciso de caminhar. nunca páro, sabes. às vezes. pause. era bom. mas já estou a cruzar linhas de caminhos de ferro. olha estas três palavras. caminho de ferro. que bonito. andamos sempre em caminhos de ferro. transformam-se muitas vezes em gelo quebradiço. nunca páro, sabes. qual foi a última pessoa que olhaste nos olhos mais de uns segundos...? não me lembro. porque ninguém olha nos olhos mais de uns segundos. concentra-te na íris e conta as cores, os riscos, a pintura, a tinta que escorre. escreve-me o que viste. grita o que viste. onde vais? nunca sei. fica mais um pouco. não posso, este ardor. que foi. arde-me. arde-me a pele e os olhos, os lábios latejam. tenho de andar mais rápido. acontece quando abrando a marcha. sinto cada engenho do meu corpo a conter a conter. mais rápido. para outro lugar para nenhum lugar. mais rápido. à velocidade das imagens que se esbotam pela janela. corre. CORRE!

terça-feira, 29 de março de 2011

o que é isto?

terça-feira, 22 de março de 2011

o salto em frente. para quando? ainda não. mas cheira a salto imenso

terça-feira, 15 de março de 2011

todas as razões para . todas as razões para...

"FEDRA És difícil. Temperamental, cínico, amargo, gordo, decadente, mimado. Passas o dia na cama, vês televisão à noite, arrastas-te pela casa com o sono nos olhos e não tens um pensamento para ninguém. Sofres. Eu adoro-te.

HIPÓLITO Não é muito lógico.

FEDRA O amor não é lógico."

Sarah Kane, O Amor de Fedra

segunda-feira, 14 de março de 2011

rewind . just a step in life. stop. play again. repeat . repeat again. rewind a bit more. just a step forward in life. pause. just? play. pause. repeat. again. again. again. again. again. pause. no. do it. again. REPEAT. AGAIN. now you have to die. don't repeat that.

Choveu ontem quando eu não nasci

"Quando eu nasci,
ficou tudo como estava,
nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe..." [e Dele]

José Régio


domingo, 27 de fevereiro de 2011

E embora não se consiga lembrar ela não consegue esquecer.

S. Kane

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

odeio-o tão profundamente que só apetece atirá-lo à parede, esmagar-lhe as entranhas, rasgá-lo, cortar em fatias finas e queimar tudo. como se nunca aquela imagem tivesse sido reflectida

kadinsky monet baroque classic



la bohème
naquela noite embaciada pelo vinho
percebi como Paris coube em mim.
la bohème
sou Paris ao contrário
sou Paris do avesso ou .
que crueldade desumana.
que humana la bohème
embaciado. embaciada melancolia.
mais um copo para esquecer. memorizar?
que seres humanos sois vós?
a face recta
o gesto negligente
la bohème sorri
mais um copo para.
ou.
gelo estudado.
arrepio-me contigo la bohème
e em Paris apetece-me chorar
o ser humano está cada vez mais triste
cruel
cruel
desejo que me peçam para dançar
mélancolie
nas caves que te sustentam
you're experience made you sad
nas superficies labirínticas que mostras
you are mélancolique
com espadas de gelo.
uma pessoa. qualquer. que importa.
la bohème e já não lembro a tua face cruel
só a onda de um lado para o outro. o que move?
e choro em Paris como se sentisse o peso do ser.
nas caves parece que cai todo o peso. acumula-se a gravidade da História.
que sustento?
por isso
la bohème

pensamento contínuo

transbordas de todos os poros .
não é só cheirar mal
é uma massa de ar sem nome que se pega às paredes, ao tecto, ao chão, às cadeiras, às portas, à roupa, que entra em cada fresta mais recôndita e sobe sem nunca sair pela janela.
é uma insuportável colonização viscosa da podridão.
é insuportável.
é insuportável.
é insuportável.
e cada vez que abro a porta...
e cada vez que depois de ter deixado tudo limpo
abro a porta...
e apetece-me olhar cada poro teu e fechá-lo para sempre . sem prever nenhuma explosão

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Perdidos e Achados. só porque quando se perde uma coisa encontra-se outra

não encontro o coração. é sempre a mesma coisa. tomo cuidado, mas depois empresto-o, dou-o assim de mergulho com túlipas na língua e fios de cabelos nas mãos e não me lembro onde ficou. ficaste com ele? qual é o prazo de validade do coração? sinto-o longe bolorento, desmaiado em frente a.
mim?
mingua mingúa minguante viajante perdido nas trincheiras da calçada.
voaste? voei? desculpa às vezes confundo a queda com o voo. É mais fácil. digerir.
se te encontrar... se quiseres volta. é que. jantei vento e fiquei com um enorme vazio.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

não preciso de consciência. não posso pensar no sopro da consciência se não o corpo reactiva-se e o espírito aniquila-se. se pensar na consciência vejo os meus contornos em movimento, vejo o contorno da vida à minha frente e eu sem estar no contorno. Não quero momentos de consciência que me fazem sentir a vida em travelling. fico ali diante do ecrã panorâmico deles. :
fico com pedras engasgadas na boca quando vejo diante de mim a imagem do indivíduo que sou quase fixo ali. vejo a imagem etiquetada em número. vejo outro tempo corrente da consciência. plano hirta em frente. em frente a quê. as pedras rodam e espetam a carne, rompem a língua e rebentam na consciência até eu deixar de ver os contornos. e volto à inconsciência de um eu.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"A muitos mares de mim
estás tu. Estás a dois passos.
Muralhas. Ferros. Tem fim
a música dos meus braços?
Nó. A morte vem aí.
Entras por mim, eu por ti
à força de amor. Já só
o exemplo e a luz do espaço."

Echevarria

diz-me de mim

a menina gritou as frustrações para o buraco e tapou-o.


abro a boca e grito bolhas de sabão de frustrações que suspendem no ar até encontrar as agulhas e o bisturi. bolhas pesadas que só com as agulhas e o bisturi. e. vou rebentá-las, vou cortejá-las, não se dissiparão elas. vão desaparecer na dor do espaço. vão. onde estão as agulhas e o bisturi. cuspo bolhas de sabão. vê-se a humidade interior. culpa da dor do espaço.

fosse eu
uma grande boca
e me cuspisse numa bola de sabão.
já com as agulhas e o bisturi encontrados.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

ainda sou do tempo...

só me falta comer pelo ecrã.

há dias em que só vivo digital.

uma cama no chão

durante a noite ouvi vozes côncavas, vi vultos negros a entrar e sair do quarto.
diluia-me nos lençóis sem lhes ver os rostos. não tinham rosto, só vozes côncavas e camisolas às riscas vermelhas e pretas. ele perseguiu-me desde a rotunda. vozes côncavas na noite ouvi. o lacrimejar da sanita descontinuava as vozes. as portas rangiam suavam. diluía-me diluía-me, também já sem rosto, sem riscas.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

«Às vezes enviavas-nos cartas,
às vezes envias-nos cartas,
não são bem cartas, são o quê? pequenas mensagens, são
só pequenas mensagens, uma ou duas frases, nada, como é
que se diz?
elípticas.
«Às vezes enviavas-nos cartas elípticas».»
«Peço desculpa.
Está bem, peço desculpa, eu não disse nada, façam como se
eu não tivesse dito nada,
mas não olhes para mim dessa maneira,
não continues a olhar para mim assim,
francamente, francamente,
o que foi que eu disse?»

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

tender para o limite

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Dos bastidores

a perna sobe
o olhar, sempre o olhar.
rodopia
um círculo do tempo
cabelos no círculo
espaço a transbordar
o corpo no chão
rastejante
o olhar, sempre o olhar.
às vezes não se vê mais nada.
como um rasto de luz o corpo
e eu a desejar ser o rasto.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Preciso do «Milagre da Árvore» que lhe aconteceu.
Ali, no meio do deserto um pinheiro.
Então o choque atravessou o corpo e ela percebeu.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

in italiano si sente meglio


Ci sono giorni che non la faccio più.
Lo sinto meglio in italiano. Ci sono ancora lì, quella parte di me che è andata via, ci sono ancora lì pensando nella perdita, provando di sapere se c'è una nuova o una mancanza di essere.
Ci sono giorni che non la faccio piè ma non posso dirlo.

Revelação

E no instante que agora deixou de ser instante percebeu. Num sopro tónico: já não sei chorar por/ para isto. Abriu a boca mas nem um som. Nos olhos um eyeliner de sangue. Não me vês mais não. Abriu a boca mas nem um som. Também ninguém vai chorar por/ para ti.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Knives in Hens

I care for nobody, no not I, if nobody cares for me



quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Febril

não.
o pé não é dali.
prali li não.
quente frio feio
vertigem
ali.
vai.
erhh.
péééé...
cooorpo corpus
carrossel, delírio imaculado da doença misturado com as visões.
com os sonhos vomitados na calçada.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Passeio nocturno

no meio do nevoeiro,
não vi D. Sebastião,

mas na corda bamba do mundo
e na cegueira instaurada


uma camélia branca.