domingo, 27 de fevereiro de 2011

E embora não se consiga lembrar ela não consegue esquecer.

S. Kane

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

odeio-o tão profundamente que só apetece atirá-lo à parede, esmagar-lhe as entranhas, rasgá-lo, cortar em fatias finas e queimar tudo. como se nunca aquela imagem tivesse sido reflectida

kadinsky monet baroque classic



la bohème
naquela noite embaciada pelo vinho
percebi como Paris coube em mim.
la bohème
sou Paris ao contrário
sou Paris do avesso ou .
que crueldade desumana.
que humana la bohème
embaciado. embaciada melancolia.
mais um copo para esquecer. memorizar?
que seres humanos sois vós?
a face recta
o gesto negligente
la bohème sorri
mais um copo para.
ou.
gelo estudado.
arrepio-me contigo la bohème
e em Paris apetece-me chorar
o ser humano está cada vez mais triste
cruel
cruel
desejo que me peçam para dançar
mélancolie
nas caves que te sustentam
you're experience made you sad
nas superficies labirínticas que mostras
you are mélancolique
com espadas de gelo.
uma pessoa. qualquer. que importa.
la bohème e já não lembro a tua face cruel
só a onda de um lado para o outro. o que move?
e choro em Paris como se sentisse o peso do ser.
nas caves parece que cai todo o peso. acumula-se a gravidade da História.
que sustento?
por isso
la bohème

pensamento contínuo

transbordas de todos os poros .
não é só cheirar mal
é uma massa de ar sem nome que se pega às paredes, ao tecto, ao chão, às cadeiras, às portas, à roupa, que entra em cada fresta mais recôndita e sobe sem nunca sair pela janela.
é uma insuportável colonização viscosa da podridão.
é insuportável.
é insuportável.
é insuportável.
e cada vez que abro a porta...
e cada vez que depois de ter deixado tudo limpo
abro a porta...
e apetece-me olhar cada poro teu e fechá-lo para sempre . sem prever nenhuma explosão

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Perdidos e Achados. só porque quando se perde uma coisa encontra-se outra

não encontro o coração. é sempre a mesma coisa. tomo cuidado, mas depois empresto-o, dou-o assim de mergulho com túlipas na língua e fios de cabelos nas mãos e não me lembro onde ficou. ficaste com ele? qual é o prazo de validade do coração? sinto-o longe bolorento, desmaiado em frente a.
mim?
mingua mingúa minguante viajante perdido nas trincheiras da calçada.
voaste? voei? desculpa às vezes confundo a queda com o voo. É mais fácil. digerir.
se te encontrar... se quiseres volta. é que. jantei vento e fiquei com um enorme vazio.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

não preciso de consciência. não posso pensar no sopro da consciência se não o corpo reactiva-se e o espírito aniquila-se. se pensar na consciência vejo os meus contornos em movimento, vejo o contorno da vida à minha frente e eu sem estar no contorno. Não quero momentos de consciência que me fazem sentir a vida em travelling. fico ali diante do ecrã panorâmico deles. :
fico com pedras engasgadas na boca quando vejo diante de mim a imagem do indivíduo que sou quase fixo ali. vejo a imagem etiquetada em número. vejo outro tempo corrente da consciência. plano hirta em frente. em frente a quê. as pedras rodam e espetam a carne, rompem a língua e rebentam na consciência até eu deixar de ver os contornos. e volto à inconsciência de um eu.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

"A muitos mares de mim
estás tu. Estás a dois passos.
Muralhas. Ferros. Tem fim
a música dos meus braços?
Nó. A morte vem aí.
Entras por mim, eu por ti
à força de amor. Já só
o exemplo e a luz do espaço."

Echevarria

diz-me de mim

a menina gritou as frustrações para o buraco e tapou-o.


abro a boca e grito bolhas de sabão de frustrações que suspendem no ar até encontrar as agulhas e o bisturi. bolhas pesadas que só com as agulhas e o bisturi. e. vou rebentá-las, vou cortejá-las, não se dissiparão elas. vão desaparecer na dor do espaço. vão. onde estão as agulhas e o bisturi. cuspo bolhas de sabão. vê-se a humidade interior. culpa da dor do espaço.

fosse eu
uma grande boca
e me cuspisse numa bola de sabão.
já com as agulhas e o bisturi encontrados.