sexta-feira, 27 de maio de 2011

PRETO E BRANCO. não existem. sobressalto no trapézio que me mantém acordada para não cair... e se cair? ato braços e pernas, desmembro o corpo e estalo as vértebras numa tentativa de separação. frag-mento-frag-minto: frágil. frágil. não sei se não partir. bocados de mim aqui e acolá. não tenho tempo para os recolher... não tenho tempo, continuamente este nascer e morrer, trapézio, equilíbrio, nunca há, nunca há trapézio, sempre em queda, não sinto nada. o que puseste na minha bebida? a queda em zigue-zague, não sei falar, não reconheço. conheço-te? há quanto tempo? há quanto tempo te abraço? não te abraço, nunca te vi. tenho saudades tuas mas nunca te vi. espeta a tua bela faca no meu peito e procura o que há dentro de mim. não podes... não há corpo, bocados de mim e acolá. nomes sem rosto rostos sem nome, vazios. faltam-me as palavras desbembradas junto de mim.

sábado, 14 de maio de 2011

«Tenderness... is nothing but an infinite, insatiable metonymy and a miraculous crystallization of the presence.»

terça-feira, 10 de maio de 2011

(sufoco. a pressão nos ouvidos. uma massa imensa. volume. peso. lutar para chegar à superfície.)
(sons de um ser humano a chegar à superfície. os pulmões saem da boca num beijo ansioso.)

havia uma linha no fundo. no fundo do mar havia uma linha ténue como esta do avião. finalmente o pescoço numa posição diferente. olho para cima até ficar tonto. e de repente todas as janelas. as janelas de todos os apartamentos do mundo. às vezes por cima da minha pespectiva, às vezes eu em panorâmica. naquela janela ela, vestida de negro. braço direito em ângulo recto, entre o umbigo e o soutien que parece sustentar qualquer coisa. o braço esquerdo por cima a segurar um cigarro. expulsa o fumo em gritos constantes. ele sentado no paarapeito, noutra janela de costas para outra ela. estão em silêncio. apercebem-se? que estão juntos? ou que não estão juntos? e ela, braço em ângulo recto olhar num ponto. consome aquele ponto como se fosse começar pirouettes em catadupa. uma família. tantas famílias... mergulhadas em imagens flash coloridas.
por vezes aqueles cheiros a conforto. café, pão quente, roupa lavada. cheiros-conforto-reconforto. não sei se tenho cheiro. só sinto o dos outros. (nunca se olham...) chovem folhas como se estivéssemos no outono. não estamos no outono. e curto-circuito. eletricidade a percorrer-me. como se, de novo, estivesse naquela sala, junto daqueles que consomiam o ponto inerte. era eu o ponto inerte e o corpo eletrocutado como o fumo que jorra gritos. e ninguém ouve. continuam de olhar fixo no ponto, até se desdobrar em imagens...

(luz a cegar o olhar e ainda ali no meio da água. depois peso. volume. uma massa imensa. bruma incandescente)