terça-feira, 10 de maio de 2011

(sufoco. a pressão nos ouvidos. uma massa imensa. volume. peso. lutar para chegar à superfície.)
(sons de um ser humano a chegar à superfície. os pulmões saem da boca num beijo ansioso.)

havia uma linha no fundo. no fundo do mar havia uma linha ténue como esta do avião. finalmente o pescoço numa posição diferente. olho para cima até ficar tonto. e de repente todas as janelas. as janelas de todos os apartamentos do mundo. às vezes por cima da minha pespectiva, às vezes eu em panorâmica. naquela janela ela, vestida de negro. braço direito em ângulo recto, entre o umbigo e o soutien que parece sustentar qualquer coisa. o braço esquerdo por cima a segurar um cigarro. expulsa o fumo em gritos constantes. ele sentado no paarapeito, noutra janela de costas para outra ela. estão em silêncio. apercebem-se? que estão juntos? ou que não estão juntos? e ela, braço em ângulo recto olhar num ponto. consome aquele ponto como se fosse começar pirouettes em catadupa. uma família. tantas famílias... mergulhadas em imagens flash coloridas.
por vezes aqueles cheiros a conforto. café, pão quente, roupa lavada. cheiros-conforto-reconforto. não sei se tenho cheiro. só sinto o dos outros. (nunca se olham...) chovem folhas como se estivéssemos no outono. não estamos no outono. e curto-circuito. eletricidade a percorrer-me. como se, de novo, estivesse naquela sala, junto daqueles que consomiam o ponto inerte. era eu o ponto inerte e o corpo eletrocutado como o fumo que jorra gritos. e ninguém ouve. continuam de olhar fixo no ponto, até se desdobrar em imagens...

(luz a cegar o olhar e ainda ali no meio da água. depois peso. volume. uma massa imensa. bruma incandescente)




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