sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Adeus 2010


foi retalhado. contrastante. fiz muito e não fiz nada. o outro lado do mundo e o Beco do Depósito. escolhas. a primeira que apareceu (concretizável). espera. espera. esperas. desejo. saudade. tanta saudade que já não sei viver sem ela. tanta saudade que já nem lhe sei chamar saudade.
preciso dos 12 desejos. das 12 passas. não gosto do número 11. é hirto, formal, só sobra um do número redondo, fica ali sozinho, tem nariz empinado, só come talos de alface, anda sempre para o mesmo lado.

um dia hei-de ter a passagem de ano dos meus sonhos. um dia.
e agora que a noite me surpreenda. e como não é pedir muito que o ano também.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

nunca é suficiente


cortem-me os pés para eu voar mais alto.
ali ficaria abrigada da chuva.
cortem-me os pés.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

«o amor é o mais forte instinto de sobrevivência, mais forte do que a fome»
Alexandra Lucas Coelho


domingo, 26 de dezembro de 2010

desilusões

No Natal a presença do ciclo edifica-se à nossa, à minha frente. Vulnerabilidade odiosa. Há aqueles que já não sabem onde estão e os outros que querem descobrir onde estão. Os do meio mais coxos, mais deprimidos, mais surdos, com mais ou menos dinheiro vão desfilando sem parar um segundo que seja para inventar magia.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

o meu coração precisa de um peeling

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

vai-se tudo

venha outra, vá esta fora.
vagueou a vestimenta lustrosa,
vi-a bela, vigorosa. vai-te agora.
velha, verde, viscosa.
venha outra, vá esta fora.

vou. não sabes mas estou mais viva mesmo sendo veículo de velocidade móvel.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010





o combinado é não esperar
que o nosso amor é clandestino

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

por três segundos

quero esse lugar luminoso, com diferentes filtros. que o corpo estale até à contratura mais tensa da alma! e os nós ficarão finalmente desenleados. a respiração mais calma. três segundos. mergulho na película, o claro é opaco. vamos refazer os nós.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

o quase e o não-sei-quê

«Na manhã em que me levantei para começar este livro tossi. Algo estava a sair-me da garganta, a estrangular-me. Rasguei o cordão que o retinha e arranquei-o. Voltei para a cama e disse: acabo de cuspir o coração.»

«Dancei num matadouro, como se o sangue de todos os animais que à minha volta pendiam degolados fosse o meu»

os órgãos deviam ser de usar e deitar fora (os órgãos da alma inclusive)
mas depois vinha a reciclagem e estragava tudo

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Frio de Dezembro

estavam os dois com ar cansado.
antes fosse ressaca.
um voo cancelado. o mesmo trabalho. Curriculum Vitae no bolso pronto para ser distribuido. trabalhos, leituras, dias inteiros recolhida na biblioteca.
a folga para nada.
sentados com uma sopa de lentilhas à frente. um centro comercial num feriado. famílias inteiras, passeio de feriado.
estou a engordar de solidão
deixa ir ao fundo, deixa ir até ao lodo, vamos bater com força e depois... tudo será mais calmo, as coisas vão acontecer.
que certeza? tudo incerteza, tudo dados não adquiridos, tudo efémero, tudo onde não se pode agarrar.
então?
pensava que ia ser diferente
a sopa de lentilhas estava boa mas costumava ser melhor
tem uma ideia.
de foram.
riram-se até chorar. algumas vezes. mascaramo-nos.
tudo ficou igual. mas estavam ali os dois. em silêncio em frente ao mar. sol intermitente.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Quando ele me perguntou o que eu queria

elogio ao amor puro


 Amor Paixao Namoro Impossivel Saudade Beleza Miguel Esteves Cardoso
The Kiss - Gustav Klimt


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.

Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, banancides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".

Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.

A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Texto de Miguel Esteves Cardoso in Expresso






eu respondi «quero que sejas louco por mim, quero que não consigas viver sem mim».
ele pestanejou e fingiu que não ouviu diante dos meus olhos rasos de amor .



domingo, 28 de novembro de 2010

Domingo

Eu Juro... que um dia te mato!

A partir das sombras do «Sombras»

Os meus olhos são verdes de olhar tanto o mar
o trapo manchado de sangue, a caminhada lenta e trôpega da vida desliza até a um palco e estanca empoeirada a um canto como o lixo do mundo
Eu ia mais feliz lá para onde se vai se o Senhor me desse os bons dias
sombras solidão, se soubesse sentindo Sebastião, soa-me a silêncio severo, sabes?
Encontrei o amor mas perdi a vida
os estilhaços da janela já se esperavam ouvir, o estrondo do corpo que mais monstro ficou na morte
era luar da meia noite
e na rua passou Ninguém.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Lago dos Encantos

e hoje inventei a palavra abraço mas não sei o que quer dizer.
fico mais perto. embrulho-te cada semana em fios de saudade e trago-te comigo. enches a casa de uma voz fininha, estridente, gargalhadas, gritos, sons, diálogos em voz alta de menina. às vezes peço-te em silêncio que me recordes como se faz. vamos inventar a palavra tempo e abrir espaço só para nós nessa palavra. um recanto nosso, só meu e teu onde cada passo de dança é o eco do sonho. rodopiamos de mãos dadas e o mundo fica às avessas, o mundo é às avessas e brinca às escondidas. somos transparentes como eles. juntas vivemos no Lago dos Encantos.
hoje inventei a palavra abraço e já sei o que quer dizer.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Brincos de princesa

O que será que ela pensa agora, ali sentada num espaço que não reconhece. Que mundo? Que pessoas? Que rostos desfocados que ela tenta reconhecer. Será que tenta? Não percebe, não fala, não identifica. De vez em quando tenta comunicar em sons e ruídos animalescos até que desiste cansada. E suspira. Um suspiro longo e profundo. Impaciente. Não estava à espera, já estava à espera. Onde estará ela? Olha-me de alto a baixo. Olha-nos. Fica fascinada com a tenra juventude. Não sabe quem somos. Ou será que sabe? A mão trémula, enrugada mais do que o tronco do castanheiro não tem força para agarrar a minha. Desiste. Suspiro profundo. Os olhos brilham mas quem sabe se serão lágrimas... Ela dizia «São brincos de Princesa!». E eu acreditava. Ainda havia brincos de princesa, eu ainda queria ser princesa.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Testosterona feminista

Gosto da delicadeza com que a maior parte das pessoas que me conhecem bem ou mais ou menos bem me tratam. São raros os amigos que me tratam por Marta. O Martinha vem sempre à baila. Tirando lá em casa que as coisas iam mais pelo Martocas. Não é por ser uma fofura que o diminutivo é usado, muito menos por ser pequenina ou magrinha, gosto de pensá-lo como um atendimento á minha sensibilidade extrema, mas não do género de sensibilidade cristal, outra mais cá dentro, mais orgânica. No entanto, enquanto não me virem a beber vinho ou cerveja ou a andar a pé em tempo indefinido é possível que a sensibilidade cristal iluda.

Foi só uma introdução.


O que eu quero partilhar (mesmo sabendo que escrever neste blog desconhecido é mais falar comigo e perceber-me do que propriamente mostrar), são aquelas situações que quando terminadas tantos elementos do sexo feminino têm esta reacção: suspiram profundamente com ar de vencedoras, brilho nos olhos, o verbo desenrascar e levemente, sem querermos, vem aquele pensamento (que já não é legítimo ter porque já se sabe, mas que ainda paira em nós) que não precisamos de um homem para nada.

Bom, tive alguns momentos de triunfo desta testosterona feminista quando por exemplo:

1) Salvei a casa da inundação que começou na varanda e se alastrou pela cozinha, tirei água à baldada, molhei-me toda, desentupi o ralo com uma faca e depois não ocnseguia tirar a faca, inventei um mecanismo para tirar a faca, mentira já, tive não sei quanto tempo a tentar tirar a faca desentupidora do ralo que depois estava a entupir o ralo. Mas consegui.

2) Fascina-me a organização de burocracias, papéis para isto para aquilo, que lá em casa só o pai é que faz, a mãe não quer saber, mas depois lixa-se que nunca sabe. Check. Mandar à merda um gajo que está a mandar bocas e a ser nojento (nota-se: à noite. nota-se: o bom da chuva é andar de guarda-chuva, qualquer coisa, podem-se tirar olhos ou o que a reacção se lembrar).

3) As compras. Leite e garrafões de água. Sem carro. A chover. Sem outro elemento para ajudar. Declaro que sentir os braços quase em desmaio, a tremer por causa do esforço de conseguir levar seis pacotes de leite e um garrafão de água mais um saco de plástico com bananas do Pingo Doce à minha casa é uma satisfação de independência. Tal como ter carregado com a estante pelas escadas acima, três andares. Adoro no fim.

Não percebo bem porquê nem como mas nestes momentos de testosterona feminista posso ser por uns minutos uma mulher calculista, fria, racional, independente, altiva. Características de "má" pessoa que até davam jeito. Às vezes.
resiste-se sempre mais do que se pensa que se consegue

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

amor e morte dois amantes






Para quê ver céu e cores se a teia trava, corta, queima, enforca.
arranca-me os olhos e deixa-me sonhar com outro tema que não seja o coração. assim não verei cores nem sépias brancos negros. prefiro ficar num asilo de alucinações.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ângulos


Peço-te que me acaricies com o pensamento já que te levaram as mãos e me despojaram o corpo.
Mingo entre os farrapos estendidos na varanda, nunca secam, estão sempre húmidos, tento secá-los mas não. Não resta mais que a corrosão do tempo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010


«O que pode acontecer imperceptivelmente, quando um olhar meu, na rua, «apanha» um outro olhar: não se sabe como, dois corpos (e dois espíritos; melhor: dois inconscientes) encandeiam-se um no outro, numa espécie de captura recíproca. Envolve-os um mesmo meio que transmite directamente as forças de um corpo ao outro.»

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Não comunicação

Estás a ver aquela árvore despida no cimo daquela colina?
Fico como ela quando o sopro da tua palavra chega distorcido, apressado, sempre na correria dos dias. Fico de pé, inerte, sem passado nem presente, com cortes no pensamento.

Estás a ver aquela árvore no cimo daquela colina?
Não existiu sequer árvore nos dias em que o sopro da tua palavra não se precipitou nem com secura, nem com um escarro engasgado na garganta.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Como coisas caindo

«(...) são apenas dois que tendo-se encontrado se procuram,
que se afastam e se aproximam; sempre a caminho
do desencontro que é a sua destinação sem destino:
O amor sem memória que não a da promessa.

Há uma música - cordas que vibram a folhagem nervo
sa do céu
enquanto a percussão vinda do fundo chega alta e devagar retira-se
para que uma flauta se acenda ondulante e se interrompa breve
- uma música sem voz que ao silêncio desse uma língua viva,
uma música que os dança na escuridão densa do sangue e,
na prodigiosa elegância em que se movem demasiado lentos
à beira do amor ou da perfeita solidão, à beira da despedida,
um de cada vez, um após o outro, perdendo-se, dança
ndo.

(...)»

in
Migrações de Fogo







sexta-feira, 22 de outubro de 2010

people

people are just people people are just people people are just people like you


terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quando o sol não chega

quando as notas vibram de mais no ouvido e já não é conjunto, nem eco, nem todo,.
descolagem, fragmento, passagem, um continua o outro vai na direcção contrária, ou simplesmente vai noutro ritmo. o estalo do som faz entra pelo ouvido, corroi, enleia-se na cabeça e agarra-se ao pescoço e às costas como um carregar da cruz. tudo se move. impotência de fazer parar. se por um segundo fosse estático. talvez, talvez...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um acordar de saudade(s)

me echas de menos Cuba





e um grito abafado pela grandeza do mundo

domingo, 17 de outubro de 2010

Sabe bem

Sabe bem beber quem quero


sábado, 16 de outubro de 2010

agudo

olhos baços
corpo longe de toque

elas morreram.
assim. sem que

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Invicta

Tenho uma nova morada de aluguer.
Simpática, confortável, com boa companhia, mas ainda sem colchão.
Com um bar/café/livraria/atelier giro ao virar da esquina.
Gosto de ver as coisas a ganhar forma.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sem carteira nem telemóvel

(semana passada)

Entrei na estação, a correr, atrasada, com uma nota de 20 euros no bolso para ser mais rápido na bilheteira. Fila. Pedi para passar à frente. Comprei bilhete. Corri. Mais um segundo e tinha visto o comboio a ir embora. Sentei-,e e respirei. Merda, não trouxe nem telemóvel nem carteira. Que bonito. Depois de muito me auto injuriar achei que não podia fazer nada e ia a caminho do Porto. Mal cheguei procurei uma cabine de telefone. Telefonei à minha mãe não atendeu. O pai atendeu. Mandei-o escrever as minhas indicações: carteira em cima da cama ou no carro, alguém que mande uma mensagem à Ana para ir ter às x horas ao pé do Capa Negra. Vamos lá ver se funciona. Funcionou. Ainda tinha dinheiro (da nota que enfiei no bolso). Correu tudo bem, encontrei a amiga. A mensagem tinha chegado. Uma ideia brilhante surgiu. Um autocarro partia de Viana em direcção ao Porto às 15.15h. Alguém que leve a minha mala ao motorista do autocarro e eu faço-lhe uma espera na Batalha. Vamos lá ver se funciona. Cheguei de bofes de fora à central, pouco passava das 16h. Esperei quase até às 16.30 e vi o autocarro a entrar. Às vezes apanhava aquele para ir para Lisboa. Como sempre (sim, não foi a primeira vez que um motorista da Rede Expresso me salvou a vida) gozou comigo e fez o joguinho de 'ah ninguém me deu nada' mas lá estava a malinha preta. 'Obrigada senhor, salvou-me o dia'. 'De nada menina, disponha!'. Que querido. A minha identidade foi retomada. Não dá mesmo para viver sem dinheiro nem com aquela caixinha que nos põe a toda a hora contactável. É assustador. Mas pior foi estar sem eles.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Viva a República!!! 1910-2010

«Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz pricipitado.

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.

Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.»

Sophia





«
Há luta por mil doutrinas.
Se querem que o mundo ande,
Façam das mil pequeninas
Uma só doutrina grande.»

Aleixo








domingo, 3 de outubro de 2010

sábado, 2 de outubro de 2010

Últimas três semanas - olá Outono

Entrei no Mestrado. (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! e ainda não festejei).
Vou/ estou no Porto.
Tenho um cabelo novo.
Não usava franja (como se fosse de tirar e pôr) desde os 5 anos.
Tenho bolhas nos pés.
Tenho frustrações acumuladas de não arranjar casa (SIM OUTRA VEZ) nem um partimezito.
Passo 4h por dia em comboios.
Tenho a Ana comigo para todo o lado.
Tenho aulas fantásticas e professores incríveis.
Na minha Faculdade fazem um belo capuccino.
Encontro pessoas esquisitas todos os dias.
Perco-me.
Autocarros cheios.
O meu primeiro amigo foi um brasileiro que me disse que pensava que «aqui na Europa anda tudo à frente e afinal...»
Observo.
Durmo pouco.
Bebo uma cerveja e fico tocada.
Mentira, não tenho tido tempo para beber cervejas.
Teatro aos sábados.
Mais coisas para a lista.
Desespero.
Aquelas casas com gente jovem lá dentro. Riam-se, falavam, cozinhavam... E eu lá fora a sentir-me como nos filmes que passam a toda a hora durnate o Natal: uma sem-abrigo na rua a precisar de tecto e carinho. Cansaço e poucas horas a dormir. Chorava ria.
Folheio jornais. Leio jornais. devoro jornais e revistas. Gasto demasiado dinheiro na leitura.
Tenho saudades.
Tenho ideias.
Tenho sonhos. Mais.
Vou a sítios estranhos com esperança de trabalho.
Rio. Sorrio.
Brinco com as nuvens.
Como sopa e bebo chá.
Tive ataques de doces.
Detesto roupa de meia estação.
Hoje chove e veio o vento e o frio.
Quero ver um filme. Vou.
Afinal está tudo na mesma. Eu.
E a roda-viva.
Mas com companhia.
É mais divertido.



Canyoning

gravidade não gravidade, mergulho tão fresco, por segundos um voo, tocar tocar o mundo, tocar sentir com o corpo todo, respirar respirar. e um respirar tão profundo. esmagada pela natureza. beleza de arrepiar.



«Querem uma Luz Melhor que a do Sol!

Ah! Querem uma luz melhor que
a do Sol!
Querem prados mais verdes do que estes!
Querem flores mais belas do que estas
que vejo!
A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me.
Mas, se acaso me descontentam,
O que quero é um sol mais sol que o Sol,
O que quero é prados mais prados
que estes prados,
O que quero é flores mais estas flores
que estas flores -
Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!»

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"





22 anos de vida 1 passatempo ganho


Concorri sem esperar nada como sempre, não tenho queda para coisas que precisam de sorte, sou mais do género trabalhar duro para conseguir. E até vou conseguindo mas desta vez também fui uma das sortudas. Uma semana, muita gente, comboios, pousadas, tradições, Mini Preço e Pingo Doce, pães com manteiga, panados, videos, fotografias. Pessoas. Que entraram nas vidas uns dos outros. Objectivo? Celebrar os 100 anos da República.
Obrigada.
(de 13 a 18 de Setembro)

domingo, 12 de setembro de 2010

«Nortada»

Recortes, imagens, episódios que se guardam sem quê nem para quê. Paisagens dela, na terra dela, na terra que não me viu nascer mas que me viu crescer, na terra onde me tornei eu, a terra que desprezei e quis fugir, na terra pequena demais para dar mais. Saí e respirei de alívio. E lá de longe apreciei o corpo desta terra viva e gritante. Voltei e pedi-lhe perdão. Sabe que parto sempre mas que volto para me re-encantar. A terra dela que se tornou minha, aqui na vida, ali no palco.

E na «Nortada» sente-se o cheiro de Outono a uvas-morangas, o vento nos cabelos e no rosto, a água gélida do mar, o sotaque "cantadeiro", os bombos, as Laurindinhas, os lenços na cabeça, os vendedores, as feiras, o vinho, a broa e o bacalhau, a humidade no ar, o linho, os charlatões, as igrejas, as moças, os moços, os castiços, respira-se respira-se.
E pela primeira vez ali senti que pertencia a Viana num revivalismo da terra em movimento.


Aplausos de pé.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Remédios santos


Fui ao osteopata. O senhor estalou-me toda e receitou-me usar sapatos de salto alto.

Shopping terapêutico.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cabo Verde - Boavista



encontrei a minha praia, sorrisos rasgados e olhares verdes no meio da pele escura, e um montão de italianos e portugueses cheios de sonhos

Sôdade.....

E depois... Festa do Forno



Numa fuga a Braga, no comboio errado, numa correria e tudo para inaugurar O FORNO da Rita!


não tirei nenhuma foto ao forno...