quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Testosterona feminista

Gosto da delicadeza com que a maior parte das pessoas que me conhecem bem ou mais ou menos bem me tratam. São raros os amigos que me tratam por Marta. O Martinha vem sempre à baila. Tirando lá em casa que as coisas iam mais pelo Martocas. Não é por ser uma fofura que o diminutivo é usado, muito menos por ser pequenina ou magrinha, gosto de pensá-lo como um atendimento á minha sensibilidade extrema, mas não do género de sensibilidade cristal, outra mais cá dentro, mais orgânica. No entanto, enquanto não me virem a beber vinho ou cerveja ou a andar a pé em tempo indefinido é possível que a sensibilidade cristal iluda.

Foi só uma introdução.


O que eu quero partilhar (mesmo sabendo que escrever neste blog desconhecido é mais falar comigo e perceber-me do que propriamente mostrar), são aquelas situações que quando terminadas tantos elementos do sexo feminino têm esta reacção: suspiram profundamente com ar de vencedoras, brilho nos olhos, o verbo desenrascar e levemente, sem querermos, vem aquele pensamento (que já não é legítimo ter porque já se sabe, mas que ainda paira em nós) que não precisamos de um homem para nada.

Bom, tive alguns momentos de triunfo desta testosterona feminista quando por exemplo:

1) Salvei a casa da inundação que começou na varanda e se alastrou pela cozinha, tirei água à baldada, molhei-me toda, desentupi o ralo com uma faca e depois não ocnseguia tirar a faca, inventei um mecanismo para tirar a faca, mentira já, tive não sei quanto tempo a tentar tirar a faca desentupidora do ralo que depois estava a entupir o ralo. Mas consegui.

2) Fascina-me a organização de burocracias, papéis para isto para aquilo, que lá em casa só o pai é que faz, a mãe não quer saber, mas depois lixa-se que nunca sabe. Check. Mandar à merda um gajo que está a mandar bocas e a ser nojento (nota-se: à noite. nota-se: o bom da chuva é andar de guarda-chuva, qualquer coisa, podem-se tirar olhos ou o que a reacção se lembrar).

3) As compras. Leite e garrafões de água. Sem carro. A chover. Sem outro elemento para ajudar. Declaro que sentir os braços quase em desmaio, a tremer por causa do esforço de conseguir levar seis pacotes de leite e um garrafão de água mais um saco de plástico com bananas do Pingo Doce à minha casa é uma satisfação de independência. Tal como ter carregado com a estante pelas escadas acima, três andares. Adoro no fim.

Não percebo bem porquê nem como mas nestes momentos de testosterona feminista posso ser por uns minutos uma mulher calculista, fria, racional, independente, altiva. Características de "má" pessoa que até davam jeito. Às vezes.

2 comentários:

  1. Minha Martinha... [ ] Fazes-me falta...

    (Lembro-me da sensação que tive depois de duas horas a tirar o gelo do frigorífico em Erasmus...) Somos Grandes!

    ResponderEliminar
  2. ahaha, adoro. e isso lembra-me que, como a minha mãe diz, tenho que comer mais sopa de espinafres.

    ResponderEliminar