segunda-feira, 28 de junho de 2010

Por partes

Há momentos ao longo do dia que desde pequena sei que são os mais difíceis. De manhã, quando me levanto e das duas uma, ou tenho de ser rápida, ver se tenho tudo e sair de casa com o cabelo molhado ou acordo devagar, fico a pensar se terei sonhado alguma coisa e depois é como já não pudesse estar ao abrigo dos meus lençóis e tivesse de enfrentar o mundo de braços abertos, mesmo se só puder vaguear pelos cantos da casa cheia. A solidão é mais amarga entre a gente, todos nos seus ritmos, talvez todos eles sozinhos, todos família que não se conhecem de lado nenhum. E todos a fingir. Todos a fingir uma vida tranquila e deles. Se calhar não é verdade, sou só eu que finjo que a casa também é minha, ainda é minha, será sempre também para mim. Nunca foi?
Depois havia aquela hora, 6, 7 da tarde, não sei bem porquê mas quando essa hora se aproximava a minha barriga começava a ficar cheia de borboletas nervosas. Acho que antigamente se resumia à hora de ir nadar, à responsabilidade, às vezes a não querer ir mas tinha de ir.
E por fim era a noite, quando temos de ir para a cama, queremos o conforto dos lençóis mas forçamos em não adormecer para não sentir os fantasmas da noite.

Hoje acordei vazia. As palavras não me chegam, mas também não sei o que quero mais. Quero um campo de papoilas dentro de mim. Estou cansada de estar alarmada à espera de ver ou encontrar não sei o quê. Como se tivesse numa rua estreita, escura e não acreditasse que os meus olhos viam as pessoas felizes a passear ou a viver a sua vida. Não confio. Eu estou ali à espreita de coração nas mãos. E entretanto vou sempre dizendo, onde quer que esteja, que estou em casa.

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